Primeiro Treino
Havia acabado de sair da loja, era domingo e não havia treinamento no chalé de Hermes pelo resto do dia. O sol forte permitia o uso dos meus adorados shorts totalmente rasgados, quase totalmente cobertos pela blusa um pouco comprida do acampamento e completos com um par de all stars. Eu já tinha feito meus alongamentos, um hábito do circo que eu não largava, durante a manha e agora eu tinha uma espada para estrear e um monte de tempo para afastar o tédio.
Fui até a arena, mas havia muitos campistas treinando e eu não estava nem um pouco a fim de companhia de um monte de adolescente suados e que me veriam suar também. Uma garota nova tem que manter um pouco da dignidade, pelo amor dos deuses. Eu havia parado para pensar nas minhas possibilidades quando um campista obviamente mais experiente, pelo numero de contas no seu colar, se aproximou de mim. Ele era apenas um pouco mais alto que eu, tinha cabelos loiros e olhos castanhos muito simpáticos.
Eu nunca iria admitir, dignidade, como já disse, mas o número de garotos que merecem um segundo olhar desse acampamento não dá para contar nos dedos das mãos. Nem com os dos pés.
"Olá notava, bem vinda ao acampamento, meu nome é Igor." Ele me cumprimentou, estendendo a mão.
"Sou Suze." Disse, apertando sua mão.
"Procurando alguém para treinar?"
"Pelo contrário, pensei em treinar sozinha, mas aqui está cheio. "Suspirei."
"Você pode ir até a floresta, é bem grande e os monstros de lá sempre são um bom treino." Ele sugeriu.
"Acho que eu vou fazer mesmo isso, valeu pela dica." Agradeci.
"De nada, e boa sorte."
"Não é como se isso fosse grande coisa." Revirei os olhos.
"Mesmo? Então talvez você consiga um bom troféu." Me virei imediatamente, sentindo o desfio na sua voz. Eu sou
muito competitiva.
"É, talvez eu te traga um troféu." Respondi, empinando o queixo sem nem ao menos perceber.
"Eu vou ficar por aqui mesmo, então se quiser passar aqui na volta para me falar como foi..."
"Isso não vai demorar." Praticamente rosnei, mas de entusiasmo com o desafio.
Segui suas coordenadas até a floresta facilmente, pisando macio nas folhas enquanto procurava por qualquer coisa perigosa o suficiente para matar. Puxei a espada da bainha e andei com ela em punho, pronta para qualquer coisa, mas a meia hora seguinte me decepcionou, andei em para todos os lados e não havia encontrado nenhum monstro ainda. Irritada, sentei em um tronco de arvore caído para descansar um pouco e pensar para onde seguiria agora enquanto observava o fluxo da água de um riacho próximo.
Passos pesados chamaram a minha atenção, abafados pela distancia, e foram se aproximando cada vez mais, me levantei num pulo e olhei pra trás ao mesmo tempo em que um enorme olho castanho se voltou na minha direção. O enorme ciclope abaixou sua mão, que antes cutucava os dentes com um asso cor de marfim, e puxou sua massa do cinto, olhando fixamente para mim com um sorriso mal.
"Lanche." Foi a única coisa que disse com sua voz rouca antes de investir contra mim.
Pega totalmente desprevenida, me atirei para longe de qualquer jeito, conseguindo evitar a colisão direta da massa do ciclope, mas não destruição que ela trouxe. Ela desferiu um arco atravessado o ar, árvores e o chão, espalhando pedaços de madeira e pedras para todos os lados, uma parte de tronco me atingiu, tirando meu ar e me atrapalhando na hora de levantar e me esconder. Seu grande olho me buscou pela poeira que seu golpe levantou e se aproximou de onde eu estava largada, não me mexi, mas mantive a mão na espada e, assim que seu pé entrou no meu alcance, deixei de pensar e finquei a lamina na carne fétida do seu pé, dando um forte choque que chamuscou sua pele.
Ele deu um tapa na minha direção em reação a dor, a maior parte acertos nas arvores em volta, já que ele estava desorientado e somente reagiu, mas foi o suficiente para me lançar alguns metros de distancia. Ele recuou, metendo o pé na beira do riacho e escorregando no lodo, caindo de cara no chão.
Me levantei, mais suja do que machucada, e corri para atacar enquanto tinha chance, minha perna esquerda latejava um pouco, mas eu a ignorei enquanto desferia um corte no braço do monstro, tirando o apoio que ele tinha para se levantar, deixando-o ainda caído de lado. Ele se debateu, atordoado com a pancada, e eu me desviei de seus enormes braços e os acertei um dúzia de vezes a caminho da sua cabeça. Percebi que seu nariz estava quebrado e dois de seus dentes podres, frouxos, pelo impacto com a terra.
Com uma idéia súbita e, na realidade, um pouco nojenta, desferi um golpe em sua boca, mandando um dos dentes longe, para em seguida afundar a espada na sua cabeça. Logo ele se dissolveu em pó, e eu me afastei, ofegante e ainda com o coração disparado, caminhei até o dente caído e o peguei, gemendo de nojo, e o levei para o riacho, lavando a maior parte da baba de ciclope.
Gemi novamente quando notei meu reflexo, então lavei o rosto e puxei os cabelos para trás antes de levantar e seguir meu caminho de volta para o acampamento. Como prometido, Igor estava lá, desferindo golpes contra um companheiro, na sua armadura completa, sentei e esperei que ele acabasse e viesse até mim.
"Você voltou." Ele sorriu, tomando um gole de água e oferecendo a mim.
"Eu disse que não seria difícil." Respondi um pouco presunçosa, aceitando a oferta.
"Conseguiu seu premio?"
"Sim, mas não é bem um premio..." Disse, entregando a ele o dente.
"Nojento." Falamos juntos e, em seguida, rimos. Ele rodou o dente nas mãos e depois o tirou para mim.
"Bom trabalho novata." Ele voltou ao seu treino e eu aproveitei mais um momento a sombra, sorrindo.